
O Dia de Todos os Santos é um momento para refletir e homenagear os santos que vieram antes de nós. Mas o que os luteranos acreditam sobre os santos? Em seu livro Celebrating the Saints, o autor Rev. William Weedon compartilha os ensinamentos luteranos sobre os santos.
O que as Confissões Luteranas afirmam sobre os Santos
A primeira parte da Confissão de Augsburgo inicia com a Santíssima Trindade e conclui com os santos. É notável que o culto aos santos não tenha sido identificado como um dos abusos que necessitavam de correção, mas, em vez disso, como uma parte integrante da fé universal que os luteranos receberam com satisfação da Igreja antiga.
Em nenhum lugar, por exemplo, as Sagradas Escrituras prescrevem a invocação dos santos, prometem que tal prática seja agradável a Deus, ou apresentam um exemplo de alguém que tenha invocado os santos. A noção de que o Senhor Jesus deva ser complacente com um fiel, alegando os méritos de seus santos, é pior do que blasfêmia. Ainda assim, apesar dos abusos, os cristãos luteranos sabiam e confessavam que havia um lugar legítimo na vida da congregação e do cristão para a lembrança dos santos.
Quem são os santos? O Santo, o Santo, claro, é nosso Senhor Jesus. Desde o princípio, os cristãos luteranos tiveram o privilégio de observar o ciclo anual de festas e celebrações que marcam os eventos cheios de graça na vida de nosso Senhor: Sua anunciação, visitação, nascimento, circuncisão, epifania, Batismo, transfiguração, Paixão, ressurreição e ascensão. A vida de Jesus é um dom tão grandioso que a Igreja simplesmente não pode abranger tudo em uma única celebração. Por isso, estende-se ao longo de um ano inteiro. À medida que seguimos o ciclo litúrgico da Igreja, testemunhamos anualmente esses importantes acontecimentos pelos quais Cristo conquistou nossa salvação, por meio da Palavra que é lida, cantada e pregada.
Entretanto, entrelaçadas com a história do Senhor, encontram-se as narrativas daqueles que pertencem a Ele. Consideremos, primeiramente, seus apóstolos, cada um deles vivendo em sua época, desempenhando principalmente o papel de testemunhas de sua ressurreição. Também recordamos outros que eram próximos a ele: sua santa mãe, São João Batista, Maria, Marta e Lázaro, Maria Madalena, José de Arimatéia, e muitos outros. Além disso, não podemos esquecer dos seus antepassados, os santos patriarcas e os fiéis do Antigo Testamento, que aguardaram com arrependimento e fé a vinda do Salvador. Nosso calendário litúrgico nos oferece a oportunidade de lembrar todas essas histórias, permitindo-nos contemplar a graça de Deus em suas vidas, encontrar exemplos de fé para nosso próprio caminho e expressar a nossa ação de graças a Deus.
No entanto, há mais a ser considerado. Desde o Pentecostes até os dias atuais, o Senhor continuou a suscitar, em sua Igreja, indivíduos cujas vidas proclamam o triunfo de sua graça. Ao lembrarmos uma pessoa ou outra de diferentes séculos durante nossas celebrações, temos a consciência de que estamos recordando apenas uma parcela modesta da maravilhosa história do amor de Deus pela humanidade, que se desdobrou na trajetória da Igreja. Há muitos outros cujas histórias não conheceremos plenamente até que a luz da eternidade os revele.
A razão pela qual os santos são considerados santos
A santidade deles não foi uma realização pessoal. A maioria deles costumava adorar da mesma forma que nós adoramos, quando dizemos:
Porque só tu és santo, só tu és o Senhor. Só tu, ó Cristo, juntamente com o Espírito Santo, és o Altíssimo na glória de Deus Pai (Hinário Luterano, 2016, p.25)
A santidade deles sempre foi, unicamente, a justiça do Santo, do Santo Senhor Jesus, cuja obediência perfeita ao seu Pai, até a cruz, foi imputada a eles por meio da fé. Eles são considerados santos porque o sangue derramado em Calvário perdoou seus pecados. Eles são santos porque o Espírito Santo os uniu ao Salvador através de uma fé viva, e, dessa forma, o amor de Deus brilhou em suas vidas. Como diz em 1João 4.19: “Nós amamos porque ele nos amou primeiro”.
À medida que aprendemos a celebrar as histórias dos santos, percebemos que estamos, acima de tudo, celebrando o amor que se manifestou na cruz de nosso Senhor. Essa é a verdadeira fonte de toda santidade.
“A respeito do culto aos santos, os nossos ensinam que devemos nos lembrar dos santos para fortalecer a nossa fé, de forma que vejamos como receberam graça e como foram ajudados pela fé”. (Confissão de Augsburgo, Art. XXI)
Por que nos lembramos dos santos
Os reformadores luteranos compreenderam que havia um grande valor em lembrar os santos que Deus concedeu à Sua Igreja. A Apologia da Confissão de Augsburgo (Artigo XXI) apresenta três motivos para essa honra.
Primeiramente, expressamos nossa gratidão a Deus por ter concedido servos fiéis à Sua Igreja.
Em segundo lugar, ao recordar esses santos, nossa fé é fortalecida ao contemplarmos a misericórdia que Deus estendeu aos Seus santos do passado.
Em terceiro lugar, esses santos são exemplos que podemos seguir, tanto em fé quanto em vida santa, de acordo com nossa vocação na vida. ...
O propósito de nossa lembrança não é honrar esses santos por si mesmos, mas considerá-los como exemplos daqueles em quem a obra salvadora de Jesus Cristo foi manifestada, para a glória de seu santo nome e o louvor de sua graça e misericórdia.
“Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de todo peso e do pecado que tão firmemente se apega a nós e corramos com perseverança a carreira que nos está proposta” Hebreus 12.1
Fontes: Concordia Publishing House: What Do Lutherans Believe about the Saints? Disponível em: https://blog.cph.org/read/what-do-lutherans-believe-about-the-saints
Hinário Luterano: edição comemorativa. Porto Alegre: Editora Concórdia, 2016, p.15
Livro de Concórdia: as confissões da Igreja Evangélica Luterana. Porto Alegre: Concórdia; São Leopoldo: Sinodal, 2021, p.72
Comments