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TEMPO PASCAL: Quarta-feira de Cinzas e o período Quaresmal

Foto do escritor: Rev. Filipe Schuambach LopesRev. Filipe Schuambach Lopes
O TEMPO DA PÁSCOA
A Páscoa comemora o evento mais crucial na vida de Cristo e foi a principal celebração entre os primeiros cristãos. Como a Páscoa é uma data móvel e uma celebração central no Ano Eclesiástico, sua data influencia significativamente o restante do ano litúrgico. Essa data impacta a Quarta-feira de Cinzas, que ocorre 40 dias (excluindo domingos) antes da Páscoa; a Transfiguração, que é celebrada no domingo anterior à Quarta-feira de Cinzas; e o número de domingos na Epifania e após o Pentecostes.
 
O Período Quaresmal
A ressurreição de Jesus é a nossa grande salvação. Em preparação para celebrar a Festa da Ressurreição (Páscoa), a Igreja designa um período específico, conhecido como Quaresma. Esse período começa na Quarta-feira de Cinzas e encerra-se com a celebração do meio-dia no Sábado de Aleluia. Em 325 d.C., o Concílio de Niceia introduziu a primeira referência ao número específico de dias para a Quaresma: quarenta, sendo o termo “Quaresma” provavelmente derivada da palavra anglo-saxônica para primavera, o período em que os dias se tornam mais longos.


Embora a Quaresma seja agora celebrada principalmente como um período de penitência, suas origens eram catequéticas, preparando os catecúmenos (aqueles prestes a serem batizados) durante a vigília pascal. A Quarta-Feira de Cinzas inicialmente marcava a inscrição dos catecúmenos para o Batismo e, em segundo lugar, a imposição de cinzas nos membros batizados que haviam cometido pecados públicos que ofenderam Deus e a comunidade.

Como nos mostra Just, Cirilo de Jerusalém descreve que os catecúmenos dedicavam três horas diárias para ouvir as Escrituras, abordando primeiro seu significado histórico/literal e, em seguida, seu significado teológico. Durante a última semana da Quaresma, a Semana Santa, os catecúmenos passavam o dia se preparando intensivamente para o Batismo, por meio de ensinamentos, jejum e oração. O ponto culminante era quando entravam nas águas do Santo Batismo e na vida de Cristo, integrando-se à comunidade cristã (JUST, 2008, p.213).

Esses quarenta dias foram posteriormente associados aos quarenta dias de Jesus no deserto antes de sua tentação (cf. Mateus 4) e aos quarenta anos que os filhos de Israel passaram no deserto (cf. Números 14.34), tornando-se um período de preparação para todo cristão.

Hoje, como na igreja primitiva, a Quarta-feira de Cinzas marca o início da Quaresma. A imposição de cinzas na testa simboliza penitência e recorda a mortalidade humana. Tradicionalmente, as cinzas são feitas queimando as palmas do Domingo de Ramos do ano anterior e misturando-as com óleo. O pastor aplica as cinzas fazendo o sinal da cruz na testa do fiel, pronunciando um versículo bíblico como lembrete da mortalidade humana: “porque você é pó, e ao pó voltará” (Gênesis 3.19).

O primeiro domingo da Quaresma marca o início do período da mesma forma que o primeiro domingo do Advento inicia o Advento. A leitura do evangelho para o Primeiro Domingo da Quaresma sempre foi a tentação de Jesus no deserto (para ambas as séries, a de um ano e a de três anos), anunciando os quarenta dias de jejum ao imitar nosso Senhor no deserto durante sua tentação por Satanás. Jesus, ao citar a palavra de Deus, derrotou Satanás no deserto. As tentações de Satanás a Jesus buscavam fazê-lo ignorar a cruz, mas Jesus, desde o início de seu ministério, mostrou que a cruz era seu destino. Sua jornada para a cruz é o tema central da Quaresma, à medida que o seguimos pelo deserto até Jerusalém.
O Salmo designado para o Primeiro Domingo da Quaresma é o Salmo 91, conhecido como o Salmo do soldado de Israel. É a canção que nos acompanha em nossa jornada rumo a Jerusalém com Cristo:
“Ele me invocará, e eu lhe responderei; na sua angústia eu estarei com ele; eu o livrarei e o glorificarei. Vou saciá-lo com longevidade e lhe mostrarei a minha salvação” (Salmo 91.15-16).

Este é outro grande tema da Quaresma, onde nos unimos à luta com Cristo como nosso comandante, travando uma batalha contra o pecado, a morte e o diabo. Não lutamos com nossas próprias forças, mas somos revestidos de Cristo, que nos equipa e luta em nosso favor. Paulo emprega essa imagem ao escrever à congregação de Éfeso:
“11Vistam-se com toda a armadura de Deus, para poderem ficar firmes contra as ciladas do diabo. 12Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, mas contra os principados e as potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestiais. 13Por isso, peguem toda a armadura de Deus, para que vocês possam resistir no dia mau e, depois de terem vencido tudo, permanecer inabaláveis. 14Portanto, fiquem firmes, cingindo-se com a verdade e vestindo a couraça da justiça. 15Tenham os pés calçados com a preparação do evangelho da paz, 16segurando sempre o escudo da fé, com o qual poderão apagar todos os dardos inflamados do Maligno. 17Usem também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus. 18Orem em todo tempo no Espírito, com todo tipo de oração e súplica, e para isto vigiem com toda perseverança e súplica por todos os santos” (Efésios 6.11-18).
Lutero também utiliza esse simbolismo em seu grande hino da Reforma, “Castelo Forte”, que é o hino do dia para o Primeiro Domingo da Quaresma:

1. Castelo Forte é nosso Deus, defesa e boa espada;
da angústia livra desde os céus nossa alma atribulada.
Investe Satã com hábil afã e sabe lutar
com força e ardil sem par; igual não há na terra.
2. Sem força para combater, teríamos perdido.
Por nós batalha e irá vencer quem Deus tem escolhido.
Quem é vencedor? Jesus Redentor,
O próprio Jeová, pois outro Deus não há;
triunfará na luta.
3. O mundo venham assaltar demônios mil, furiosos,
jamais nos podem assombrar, seremos vitoriosos.
Do mundo opressor, com todo rigor
julgado ele está; vencido cairá
por uma só palavra.
4. O Verbo eterno ficará, sabemos com certeza,
e nada nos perturbará com Cristo por defesa.
Se vierem roubar os bens, vida e o lar -
que tudo se vá! Proveito não lhes dá.
O céu é nossa herança.

A cor designada para a Quaresma é o roxo, simbolizando tristeza e arrependimento. Nos tempos de Jesus o roxo (ou violeta ou púrpura) era muito apreciado. A tintura era tirada de mariscos que tinham um fluido especial. As roupas com essa tintura eram muito caras, de maneira que somente ricos poderiam comprá-las. Interessante lembrar que Jesus vestiu um manto roxo somente uma vez, enquanto os soldados zombavam dele conduzindo-o ao Pretório, ridicularizando-o por ser um rei. Regista o evangelista Marcos: “Vestiram Jesus com um manto de púrpura e, tecendo uma coroa de espinhos a puseram na cabeça dele” (Marcos 15.17). O roxo nos faz lembrar o desprezo que Jesus sofreu carregando em humildade nossos pecados até a cruz. Consequentemente, precisamos nos lembrar que, em humildade, devemos confessar nossos pecados e levar uma vida de arrependimento. Sendo assim, a cor roxa (violeta ou púrpura) é adequada para o período da Quaresma, quando, em humildade, nos preparamos, arrependidos, para a Festa da Páscoa que se seguirá. Na Quarta-feira de Cinzas, a cor alternativa é o preto, representando luto, humilhação e morte. Qual seja a cor utilizada na Quarta-feira de Cinzas são trocados para o roxo na quinta-feira.

 
BIBLIOGRAFIA
 
JUST, Arthur A. Heaven on Earth: The Gifts of Christ in the Divine Service. S. Louis: Concordia Publishing House, 2008.
 
Lutheran Service Book. St. Louis: Concordia, 2006.
 
MAXWELL, Lee A. Altar Guild Manual: Lutheran Service Book Edition. S. Louis: Concordia Publishing House, 2008.
 
REED, Luther D. The Lutheran liturgy: a study of the Common Service of the Lutheran Church in America. Philadelphia: Muhlenberg Press, 1947.

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