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A Comunhão Fechada na Igreja Luterana

Foto do escritor: Rev. Filipe Schuambach LopesRev. Filipe Schuambach Lopes
            A prática da “comunhão fechada”, assim como realizada na Igreja Luterana é frequentemente tratada como uma questão delicada em nossa igreja. Isso está destinado a causar problemas quando um membro pergunta ao pastor se um amigo ou ente querido de outra denominação pode receber a comunhão e o pastor diz que não. Parece bastante rude! A reação pode ser: “Quem vocês, luteranos, pensam que são afinal! Os luteranos são cristãos melhores do que outras pessoas?” Infelizmente, a prática da comunhão fechada não é muito bem compreendida. Isso leva ao descontentamento e frustração quando a doutrina é posta em prática. A melhor maneira de superar essas dificuldades é com conhecimento e compreensão do que a prática da comunhão fechada realmente significa. É importante entender primeiro o que os luteranos acreditam sobre a comunhão, e só então poderemos começar a entender a prática da comunhão fechada.

            Entre os luteranos hoje no Brasil, a Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) mantêm essa prática. Em nossa igreja, apenas aquelas pessoas que foram devidamente instruídas sobre o significado, uso e benefício do Sacramento podem receber o Sacramento. Na prática, isso significa que a Santa Ceia é oferecida apenas a pessoas que são membros confirmados nas congregações da IELB e aquelas igrejas em plena comunhão de púlpito e altar conosco. Deve-se notar também que a comunhão não deve ser dada aos pecadores impenitentes nem aos descrentes. Com isso em mente, deve-se entender que a participação na Santa Ceia nunca é um “direito” a ser “exigido”, mas sim um privilégio que recebemos com gratidão e grande alegria. O pastor da congregação local é responsável por decidir quem deve receber e quem não pode receber a comunhão no altar da congregação, em virtude de seu ofício como servo do Evangelho chamado e ordenado. Os luteranos da IELB não desejam receber a comunhão em igrejas luteranas que não sejam da IELB pelos mesmos motivos que os membros de outras denominações não devem querer receber a comunhão em uma congregação da IELB.

            Os luteranos acreditam que a Santa Comunhão é um sacramento - um presente muito especial do nosso Senhor Jesus Cristo. Conforme as Sagradas Escrituras, acreditamos que Jesus Cristo nos dá seu real Corpo e Sangue para comer e beber, sob o pão e o vinho, neste Sacramento. (cf. Mt 26.17ss; Mc 14.12ss; Lc 22.7ss; 1Co 11.23ss). Não acreditamos que o pão e o vinho sejam apenas símbolos do Corpo e Sangue de Cristo, ou que eles meramente representem o Corpo e Sangue de Cristo. Levamos as Escrituras ao pé da letra e acreditamos que o pão é o Corpo de Cristo e que o vinho é o Sangue de Cristo porque Jesus disse: “Isto é o meu corpo” e “Isto é o meu sangue”. Chamamos essa doutrina de Doutrina da Presença Real, ou, União Sacramental. Acreditamos que, quando recebemos o Corpo e Sangue de Cristo, sob o pão e o vinho, Deus perdoa nossos pecados. Essa consciência e noção sobre o Sacramento nos faz ser muito cuidadosos em nossa celebração da Ceia do Senhor. Sabemos que aqueles que não discernem o corpo de Cristo no Sacramento o fazem por sua própria conta e risco. Em outras palavras, pessoas que são membros de igrejas que não confessam a Presença Real de Cristo na Ceia do Senhor são convidadas a não participarem desta Santa Comunhão. Na sua Palavra, Deus diz: “Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor”. (1Co 11.27). Em outras Palavras, “comer o pão e beber o cálice do Senhor indignamente” é não reconhecer que, o que é dado e recebido é o Corpo e o Sangue do Senhor. Se Paulo estivesse falando exclusivamente da igreja como corpo de Cristo, o sangue não seria mencionado. Contudo, comer e beber de maneira indigna também inclui não reconhecer a presença sacramental do Corpo e Sangue de Cristo.

            O Sacramento da Santa Ceia não é simplesmente um ato pessoal e individual. A celebração da Santa Comunhão também é um ato público de confissão. Em outras palavras, ela testemunha nossa unidade no “ensino dos Apóstolos” (cf. Atos 2.42). Quando você recebe o Sacramento no altar de uma igreja, está dando testemunho público de que concorda com a posição doutrinária daquela igreja. Por isso, acreditamos, ensinamos e confessamos que a Santa Ceia é a expressão mais elevada da comunhão da igreja. Acreditamos que concordar sobre o Evangelho é mais do que concordar com algumas generalidades sobre Jesus ou a Bíblia. Não existe algo como um Cristianismo “genérico”. Quando comungamos juntos, testemunhamos nosso acordo no Evangelho e em todos os artigos da Fé Cristã. A Santa Ceia, nesse sentido, é uma marca de confissão da Fé Cristã.
 
            Quando nos recusamos a dar a Santa Ceia a pessoas que não são de nossa igreja, não o fazemos porque achamos que são “pessoas más” ou porque não são “cristãs”, ou porque somos mais santos ou menos pecadores. A comunhão fechada não é destinada a ser uma prática julgadora, no sentido de que estamos condenando pessoas. É uma prática que preserva e sustenta a verdade e o poder do Sacramento. É uma prática que nós, luteranos, sentimos proteger aqueles que não acreditam nas mesmas coisas que nós. É uma prática que reconhece que a filiação a uma igreja significa algo. Pertencer a uma igreja significa confessar o que aquela igreja acredita e confessa. Comungar no altar de uma igreja é a expressão mais elevada do confessar a unidade com o que aquela igreja ensina. Uma pessoa deve determinar por si mesma se o que sua igreja ensina é o que a Palavra de Deus ensina. Respeitamos a decisão de cada indivíduo nessa questão, mas não podemos, na boa consciência, criar a impressão de que as diferenças entre igrejas não têm significado. Porque as diferenças entre igrejas dizem respeito ao Evangelho de nosso Salvador Jesus Cristo, sabemos que as diferenças são importantes e têm importância. Por isso, escolhemos praticar a comunhão fechada, uma prática que é encontrada na histórica e ortodoxa Igreja Luterana desde a época da Reforma e uma prática que remonta aos primeiros anos da igreja cristã. Esperamos que nossas práticas sejam respeitadas por aqueles que discordam de nós. Certamente não pretendemos ofender ninguém nem desejamos criar animosidade e mágoas. Esperançosamente, esta breve explicação ajudará você ou outra pessoa a entender que nosso amor pelo Sacramento e nosso amor pelo indivíduo são as motivações para nossa prática de comunhão fechada.
 
McCain, Paul T. ”An Explanation of Closed Communion.” 
Tradução e Adaptação: Rev. Filipe Schuambach Lopes.

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